sexta-feira, 3 de maio de 2013

Glorinha "voando" baixo



Há meses, muito se falava sobre a baixa audiência de Salve Jorge. O trocadilho óbvio com o título foi usado várias vezes, felizmente, não por mim. Substituir Avenida Brasil não poderia ser tarefa fácil para nenhuma novela. Porém hoje o cenário é outro. Glória Perez corre com a trama e a sucessão de acontecimentos atrai o telespectador, que já não compreende detalhes da história caso fique alguns dias sem assisti-la. Esse fato é bem comum na chamada “barriga”, aquela enrolação típica do miolo da novela, que permite que ela dure aproximadamente nove meses. Em Salve Jorge, esse parto fica cada vez menos indolor, à medida que se revela a importância de certos personagens periféricos.

Dentre esses, um dos mais comentados é Jo-Johana, a escrivã da polícia transformada em dançarina infiltrada, interpretada pela estreante Thammy Gretchen. O nome “Johana” surgiu de um sonho da própria Thammy. O que ajudou a gerar a curiosidade do público foi o fato de Johana dançar uma música célebre na voz, ou melhor dizendo, no bumbum de sua mãe, a dançarina Gretchen. Também é peculiar que o pai de Thammy seja um policial, ou seja, Jo-Johana combina as duas profissões. As performances no palco deixam um pouco a desejar, tornando constrangedor os elogios dos outros personagens. Comentários como “muito boa essa moça” são forçados para dizer o mínimo. Mas é inegável que com esse laboratório doméstico Thammy surpreendeu muita gente e faz uma boa estreia como atriz.




Surpreendente também foi a revelação de que a capanga de Lívia (Claudia Raia), Wanda (Totia Meireles) traficou sua própria filha! Mas tudo não passava de uma armação da esperta delegada Helô (Giovanna Antonelli). Durante muito tempo a autora deixava transparecer que a adotada riquinha Aisha (Dani Moreno) fosse filha da moradora do morro do Alemão Delzuite (Susana Badin). Certas vezes, alguns indícios sobre o desenrolar da história são fornecidos, possibilitando ao público prever o que irá acontecer. Tal recurso é conhecido pelo termo “antecipação” e diferente do que se possa imaginar, causa mais suspense do que morosidade. Nesse caso, as melhores cenas ocorreram durante os interrogatórios. Hoje à noite veremos se o reencontro familiar e o choque de classes trará alguma profundidade. 

Nessas últimas semanas o núcleo principal também ganhou destaque e teve mais idas e vindas que em toda trama. Mesmo não agradando maciçamente, gerou muitos comentários, inclusive em redes sociais, critério de avaliação que hoje conta e muito.
E quem sustentou a novela desde o início continua brilhando. É claro que estou falando de Helô e seu ex-porém-futuro marido Stênio (Alexandre Nero), que protagonizaram boas cenas de comédia. O modo como a delegada usou o lado fofoqueiro do marido foi ousado e divertido. Esse tipo de personagem, que mantém o ritmo através do humor, às vezes humor negro, é indispensável para qualquer folhetim. Cito alguns recentes: Bebel (Camila Pitanga, em Paraíso Tropical), Rakelli (Isis Valverde, em Beleza Pura), Léo (Gabriel Braga Nunes, em Insensato Coração) e Rafaela (Klara Castanho, em Viver a vida). É por eles que os telespectadores começam a assistir uma ou outra cena das novelas e acabam se tornando assíduos. São também os personagens mais lembrados.



Assim como tantas outras novelas que não agradaram na maior parte do tempo, Salve Jorge também tem a chance de fechar com chave de ouro e deixar, de alguma maneira, saudades. Seja pela trama que se tornou interessante com seu desenrolar, seja por algum personagem popular que causou identificação no público. Trocadilho infame a vista: Salve Jorge matou os dragões.

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