Há meses, muito se falava sobre a baixa audiência de Salve
Jorge. O trocadilho óbvio com o título foi usado várias vezes, felizmente, não
por mim. Substituir Avenida Brasil não poderia ser tarefa fácil para nenhuma novela. Porém hoje o cenário é outro. Glória Perez
corre com a trama e a sucessão de acontecimentos atrai o telespectador, que já
não compreende detalhes da história caso fique alguns dias sem assisti-la. Esse
fato é bem comum na chamada “barriga”, aquela enrolação típica do miolo da
novela, que permite que ela dure aproximadamente nove meses. Em Salve Jorge,
esse parto fica cada vez menos indolor, à medida que se revela a importância de
certos personagens periféricos.
Dentre esses, um dos mais comentados é Jo-Johana, a escrivã
da polícia transformada em dançarina infiltrada, interpretada pela estreante
Thammy Gretchen. O nome “Johana” surgiu de um sonho da própria Thammy. O que
ajudou a gerar a curiosidade do público foi o fato de Johana dançar uma música
célebre na voz, ou melhor dizendo, no bumbum de sua mãe, a dançarina Gretchen. Também
é peculiar que o pai de Thammy seja um policial, ou seja, Jo-Johana combina as
duas profissões. As performances no palco deixam um pouco a desejar, tornando
constrangedor os elogios dos outros personagens. Comentários como “muito boa
essa moça” são forçados para dizer o mínimo. Mas é inegável que com esse
laboratório doméstico Thammy surpreendeu muita gente e faz uma boa estreia como atriz.
Surpreendente também foi a revelação de que a capanga de
Lívia (Claudia Raia), Wanda (Totia Meireles) traficou sua própria filha! Mas
tudo não passava de uma armação da esperta delegada Helô (Giovanna Antonelli).
Durante muito tempo a autora deixava transparecer que a adotada riquinha Aisha
(Dani Moreno) fosse filha da moradora do morro do Alemão Delzuite (Susana
Badin). Certas vezes, alguns indícios sobre o desenrolar da história são
fornecidos, possibilitando ao público prever o que irá acontecer. Tal recurso é
conhecido pelo termo “antecipação” e diferente do que se possa imaginar, causa
mais suspense do que morosidade. Nesse caso, as melhores cenas ocorreram
durante os interrogatórios. Hoje à noite veremos se o reencontro familiar e o
choque de classes trará alguma profundidade.
Nessas últimas semanas o núcleo principal também ganhou
destaque e teve mais idas e vindas que em toda trama. Mesmo não agradando
maciçamente, gerou muitos comentários, inclusive em redes sociais, critério de
avaliação que hoje conta e muito.
E quem sustentou a novela desde o início continua brilhando.
É claro que estou falando de Helô e seu ex-porém-futuro marido Stênio
(Alexandre Nero), que protagonizaram boas cenas de comédia. O modo como a
delegada usou o lado fofoqueiro do marido foi ousado e divertido. Esse tipo de
personagem, que mantém o ritmo através do humor, às vezes humor negro, é
indispensável para qualquer folhetim. Cito alguns recentes: Bebel (Camila
Pitanga, em Paraíso Tropical), Rakelli (Isis Valverde, em Beleza Pura), Léo
(Gabriel Braga Nunes, em Insensato Coração) e Rafaela (Klara Castanho, em Viver
a vida). É por eles que os telespectadores começam a assistir uma ou outra cena
das novelas e acabam se tornando assíduos. São também os personagens mais lembrados.
Assim como tantas outras novelas que
não agradaram na maior parte do tempo, Salve Jorge também tem a chance de
fechar com chave de ouro e deixar, de alguma maneira, saudades. Seja pela trama
que se tornou interessante com seu desenrolar, seja por algum personagem popular
que causou identificação no público. Trocadilho infame a vista: Salve Jorge
matou os dragões.
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