segunda-feira, 27 de maio de 2013

Mascarando o talento, nem que custe a vida



Nos últimos anos, cresceu no Brasil o stand-up, estilo de humor popular nos Estados Unidos há muitos anos, através de atores famosos como Jerry Seinfeld e Steve Martin. Aqui, seus representantes, que passavam fome nos teatros e bares, migraram para a TV e viraram celebridades em diversos estilos de programa. Após se estabelecerem em seus canais, viram um mundo de oportunidade$$ e maior visibilidade para seus talentos. Da mesma forma como acontece no futebol, houve uma verdadeira janela de transferência, de 2012 pra 2013, divulgada no primeiro post do Bloggezinho. Vejamos os erros e acertos de cada um.


Rafael Cortez era um dos nomes mais fortes do CQC, da Band. Com um humor pateta, porém elegante, o multi-talentoso humorista cobria pautas de celebridades, principalmente. Decidiu largar essa certeza e praticar a versatilidade como apresentador. Sem muito barulho, estreou na Record no “Got Talent Brasil”, vertente brasileira do “Britain’s got talent” (que revelou Susan Boyle), um dos 347 programas desse gênero de Reality Show. Na nova fase do programa, que estreou no último dia 21, o apresentador aparecerá mais. No entanto, não pretende explorar seu lado mais cômico. A sorte de Cortez é que esse tipo de programa exige bastante do apresentador, aperfeiçoa uma infinidade de técnicas. Exemplos como Ryan Seacrest, a frente do American Idol desde o início da atração e que chegou a ser sugerido como substituto da lenda Jerry Springer (uma espécie de Marília Gabriela americana, só que homem) e Rodrigo Faro, que usou o “Ídolos” como um estágio de transição entre as novelas e o auditório e hoje é um dos melhores apresentadores do país, mostram que realitys shows amadurecem os profissionais. Por outro lado, o azar de Cortez é que “Got Talent Brasil” não causou nenhum furor. Cortez terá que se desdobrar e apressar seu amadurecimento como apresentador para ter alguma visibilidade comparável a que tinha no CQC.



Para a lacuna deixada por Rafael Cortez a Band chamou Dani Calabresa, da MTV. A humorista paulista tem o mesmo timing de humor, pateta, um pouco mais crítico que o de Cortez e graças a isso, brilhava no jornalístico Furo MTV, ao lado de Bento Ribeiro. Supunha-se que Dani faria um trabalho bem parecido com o de Rafael. Mas Dani vem apresentando um quadro que mais parece um primo pobre do próprio Furo, mostrando acontecimentos sem importância de forma sem graça. Em suma, mal aproveitada. Talvez renderia mais se houvessem menos cortes de imagem, mais cenas com seus erros e improvisos.

Seu marido, Marcelo Adnet, o nome mais forte dessa leva de talentos, foi para a Globo. A estreia parecia promissora, depois de revelada a assinatura do programa que o teria como atração: a dupla Fernanda Young e Alexandre Machado (Os Normais, Os Aspones, entre muitos outros). Parecia. O texto é justamente o ponto mais fraco de O Dentista Mascarado, que perde público a cada semana. Os surtos da yoga devem ter devolvido um parafuso na cabeça de Young.* Adnet e o ótimo elenco, composto por Leandro Hassum, Otávio Augusto, Thaís Araújo, Helena Fernandes e Diogo Villela, fazem o que podem, mas falta principalmente ingredientes que gerem a curiosidade para a próxima semana. Adnet, no entanto, pode amadurecer como ator, construindo um personagem com camadas, semana após semana, algo novo em sua carreira televisiva. 
A série não deve ter uma segunda temporada e Adnet pode ganhar um programa solo, talvez até unindo humor, jornalismo e esporte. Mas uma coisa é certa: não há espaço na Globo para o aspecto mais notável de seu humor, a crítica, bem nas feridas. Para continuar nos brindando com essa perspicácia, Adnet poderia fazer o mesmo que o também global Fábio Porchat, e criar um projeto paralelo voltado para web. Possivelmente com música, já que o humorista, vindo de família de músicos, já mostrou ter talento para paródias além de ser bem afinado.
*Young está na GNT com o programa "Surtadas na Yoga"



A última estreia dos humoristas que trocaram de casa foi também a mais inusitada. Há alguns meses, escrevi aqui no Bloggezinho que não imaginava o humor non sense de Tatá Werneck em muitas emissoras. Entretanto, Walcyr Carrasco arriscou e desde quinta-feira passada a humorista com formação em publicidade pode ser vista no horário mais nobre da emissora mais assistida do país. Escalada para ser o alívio cômico da trama, ou seja, uma baita responsabilidade, a atriz já recebe elogios dos colegas. Vem fazendo um misto de Fernandona e Roxanne, personagens bem conhecidos dos que já seguem sua carreira há alguns anos, na MTV, uma personagem que exige da atriz falta de medo do ridículo, algo que poucas atrizes desempenharia com tanta propriedade. E ainda teve a sorte mercadológica de ter sua cena com o jogador Neymar, cena muito divulgada por sinal, exibida no mesmo dia que ele assinou contrato com o time Barcelona.

Talento todos já provaram ter, além da coragem para arri$car. Brincadeira, há um grande desafio e um grande risco em trocar o que é cômodo e familiar por algo totalmente novo. Certamente, se eles se mativerem fiéis ao que acreditam como artistas, nós veremos muitos outros trabalhos legendários. Talvez legendários não seja a melhor palavra, se é que me entende.


Em cena do Comédia MTV, Dani Calabresa, Tatá Werneck, Rafael Cortez e Marcelo Adnet.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Walcyr Carrasco morde e não assopra



Adoro primeiros capítulos de novelas. Não só para conhecer uma trama inteiramente nova e seus personagens que nos farão companhia por vários meses, mas principalmente porque toda equipe aplica um esforço acima da média para deixar logo sua marca no horário. Isso é nítido em todas as estreias, levando alguns a crer que tal novela empregará um ritmo ágil. No entanto, a cadência própria de cada novela é ditada ao longo da novela, não em seu primeiro capítulo.




Nossas experiências também podem ser influenciadas pelo modo como a novela anterior acabou. Apesar de Salve Jorge ter se encontrado nas últimas semanas, não deixou a saudade que outras deixaram. Ainda assim, alguns pontos do último capítulo fugiram do lugar comum e podem ser relacionados com a estreia de Amor à vida.

Tomei até um susto ao ver todas traficadas, lideradas pela policial disfarçada Jo-Lohana (Thammy Gretchen) acertando as contas com o capanga Russo à base de socos e tapas. A cena foi quase um Capitão Nascimento enchendo a autoridade corrupta de porrada no filme “Tropa de Elite 2”. Curiosamente, o alvo para a catarse das injustiças é o ator Adriano Garib, intérprete de Russo e do político do filme. Esse tipo de justiça, “olho por olho, dente por dente” não é muito comum em novelas. O perdão, puro e cristão dos mocinhos costuma tomar conta nos finais. E de certa forma, também no “julgamento” dos escritores. Não é bem um julgamento, propriamente dito. Um escritor pode dar um destino com o qual não concorda a um personagem, trazendo a tona o acaso da realidade. Porém o destino mais recorrente dos vilões é um rápido e quase indolor acidente de carro. Que tudo se resolva no outro mundo. 



Nesse ponto, Salve Jorge foi quase inovadora. Todos seus vilões foram parar atrás das grades. O que faz muito sentido, já que a heroína da trama é uma delegada (mais detalhes no parágrafo abaixo). E na cadeia, em mais uma cena inspirada, Wanda (Totia Meirelles) adotou uma religião, possivelmente evangélica, como forma de mostrar seu conformismo em qualquer situação, como disse, brilhantemente, Lívia (Claudia Raia). (Veja vídeo aqui) Em Amor à Vida, há boatos de que Valdirene, filha de Márcia do Espírito Santo (Tatá Werneck e Elizabeth Savalla, respectivamente) se converta também há uma vertente evangélica, o que pode gerar polêmicas, já que a personagem, que deve entrar na trama na próxima semana, será apresentada como uma “maria-chuteira”. Não há nem mesmo uma confirmação do autor Walcyr Carrasco, que garante decidir o destino de seus personagens de acordo com o que os próprios mostram para ele.

Voltando a heroína, “Donelô” (Giovanna Antonelli) esteve apagadinha no capítulo final da novela de Glória Perez, mas foi uma constante ao longo de seus quase sete meses. Deve ser lembrada como a referência na novela de personagem que funcionou. Moderna, feminina, divertida e inteligente, muitas vezes pensou a frente do público. Pode-se dizer que é uma heroína perfeita.  Amor à vida, aparentemente virá com o vilão perfeito. Félix (Mateus Solano) comandou o humor e foi o maestro da tensão nos primeiros capítulos. Equilibrando a perspicácia típica dos gays, perversidade, inveja e ambição, a “bicha-má”, como já está sendo chamada nas redes sociais, dá claros indícios de ser um psicopata. E o Brasil ama um bom psicopata nos folhetins!



Do lado negativo, a sessão de furos já começou em Amor à Vida. Parto normal em uma mulher com pressão alta. Será que teremos que continuar voando? É o que falta para que boas novelas tupiniquins possam ser comparadas aos seriados estrangeiros: maior preocupação com a veracidade do que é posto na tela. Por mais que se use a carta da “liberdade poética”, essa falta de cuidado pode gerar consequências graves no público menos informado. Walcyr precisará de muita atenção para segurar essas imprecisões com seus mais de 80 personagens, fator que aproxima Amor à Vida as novelas de Glória Perez e distancia do modelo aprovado de João Emanuel Carneiro, que trabalha com elencos mais enxutos.

Acostumado a novelas leves, lembradas pelo humor como O Cravo e a Rosa, Chocolate com Pimenta e Alma Gêmea, Walcyr Carrasco, até agora, nos despejou um drama quase sem alívios cômicos. Encontrou o seu próprio momento para criar uma trama mais densa, compatível com o horário. O humor anunciado em comerciais e até em programas como Video Show e Fantástico, ainda aparecerá. Porém se quiser manter a coerência no trabalho, esse deve ser um estilo de humor bem diferente dos encontrados nos pré-citados folhetins das 18h. Independente da aceitação de Amor à vida, esse é um ponto novo, um verdadeiro desafio na carreira do autor.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Os filmes mais aguardados do ano - Cannes 2013



A 66ª Mostra de Cinema de Cannes, na charmosa e “baphônica” Riviera Francesa, começou hoje e vai até o dia 26 de maio..

Depois do Oscar, Cannes é a premiação de cinema mais famosa do mundo. No entanto, sendo mais uma mostra do que uma competição, tem maior credibilidade entre os cinéfilos e seus filmes, exibidos e vencedores, figuram entre os maiores clássicos.

O evento tem o intuito de apresentar os filmes mais aguardados dos diretores de maior renome e apresentar novos talentos. Apresento um pequeno panorama do primeiro grupo.



Inside Llewyn Davis, de Joel e Ethan Coen, conta a história de um músico, amigo de outros músicos conhecidos como Bob Dylan, mas que diferente de seus amigos nunca conseguiu fama e sucesso. O filme se passa nos anos 60 e conta com Justin Timberlake, Carey Mulligan e Oscar Isaac, interpretando o personagem do título. Dos atores habituais dos Coen, apenas John Goodman.

Os irmãos tem grande destaque na história do festival. Melhor direção três vezes (Barton Fink, Fargo e O homem que não estava lá, 1991, 1997 e 2001, respectivamente). Em 1991, Barton Fink venceu a Palma de Ouro, ou seja, também foi eleito o melhor filme, fato que ocorreu apenas outra vez, em 2003, com Elefante de Gus Van Sant.






François Ozon, um dos mais renomados diretores franceses da chamada “New Wave”, vem com Jeune & Jolie, o retrato de uma jovem pelas quatro estações do ano. Chalotte Rampling, que trabalhou com o diretor em Swimming Pool, única participação anterior do diretor em Cannes, volta a colaborar com o diretor.




Um pai viaja com seu filho que mal conhece para buscar um prêmio. Em poucas palavras, Nebraska, filme de Alexander Payne (Os descendentes, As confissões de Schimidt). Duas figuras conhecidas dos fãs de seriados compõe o elenco: Stacy Keach, de Prison Break e Bob Odenkirk, de Breaking Bad. Trata-se de mais um road-movie na carreira do diretor, com todos os ingredientes do sub-gênero, como análises sobre a vida e nossas relações, temas muito presente nos outros filmes do diretor americano.




Roman Polanski, diretor de O Pianista, filme vencedor em 2002, apresentará dois filmes. La Vénus à la fourrure, na mostra competitiva, tem sua esposa Emmanuelle Saigner (de O escafandro e a borboleta, vencedor do prêmio de melhor diretor, em 2007) interpretando uma atriz que tenta convencer um diretor de que ela deve protagonizar sua nova peça. Já na mostra especial, sobre esportistas, será reexibido seu documentário “Weekend of a champion”, de 1972, sobre o piloto de Fórmula 1 Jackie Stewart. Também nessa mostra paralela estará o documentário “Muhammad Ali's greatest fight”, de Stephen Frears, sobre a luta do falecido pugilista para não ir para a guerra do Vietnã.





O diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn, que há dois anos foi condecorado em Cannes com o prêmio de melhor diretor por Drive, volta a mostra com Only God Forgives. Mantendo sua linha de violência cult (que se assemelha mais a Scorsese que a Tarantino) o diretor escalou novamente Ryan Gosling, ator de Drive. O personagem de Gosling em Drive, inclusive, lembrava muito Travis Bickle, interpretado por Robert De Niro no filme Taxi Driver, de Scorsese. Nicolas surgiu na mesma época que os diretores dinamarqueses do Dogma 95, Lars Von Trier e Thomas Vinterberg. Porém representou um contraponto ao estilo restritivo e realista de seus conterrâneos.






Outro diretor que já ganhou uma Palma e exibe seu filme em Cannes é Steven Sodenbergh. Vencedor com apenas 26 anos com seu “Sexo, mentiras e videotape” (1989), Sodenbergh apresenta Behind the Candelabra, sobre a conturbada relação do pianist Liberace (Michael Douglas) e seu amante Scott Thorson (Matt Damon), autor do livro homônimo cujo filme foi baseado. 






Veterano de Cannes com 8 participações e um prêmio de júri, por “Flores Partidas” (2005), o esquisitão Jim Jarmush (Dead Man e Ghost Dog) apresenta Only Lovers Left Alive. Estrelado pela incrível Tilda Swinton (Precisamos falar sbre Kevin), o filme conta a história de amor de dois vampiros. Apaixonados há séculos, eles tem a relação abalada pela irmã mais nova da vampira.





Baseado em fatos reais, The Bling Ring, de Sofia Coppolla, estará na Mostra Um Certo Olhar e conta a história de um grupo de jovens que assalta casas de celebridades. Sofia se especializou em atualizar o “cinema do tédio”, de Michelangelo Antonioni (A Aventura, A Noite e O Eclipse, conhecida como trilogia da incomunicabilidade ou trilogia do tédio). Espero algo semelhantes em The Bling Ring, protagonizado por Emma Watson, da série Harry Potter. 





Também vale citar a estreia do ator James Franco (Oz, mágico e poderoso) com As I lay dying, Wara no tate, o novo do diretor Japonês Takeshi Miike (Zatoichi e Hara-kiri, a morte de um samurai) e o novo filme de Baz Luhrmann, O Grande Gatsby, adaptada da obra literária de F. Scott Fitzgerald, com Leonardo DiCaprio, Tobey Maguire e Carey Mulligan no elenco e Beyoncé na trilha. O estúdio proibiu a mídia de divulgar seus reviews até após a exibição, mas a imprensa britânica burlou esse bloqueio. Apesar disso, o filme que abriu o Festival foi recebido com certa frieza.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Saul Bass, o pai das aberturas no cinema



Um corpo que cai
Já entrou no Google hoje? Curtiu o grafismo retrô? Trata-se de uma homenagem a Saul Bass, designer gráfico que faria 93 anos hoje. Ele espalhou seu talento nas aberturas e pôsteres de filmes de gente do calibre de Alfred Hitchcock (Intriga Internacional, Um corpo que cai, Psicose), Otto Preminger (Anatomia de um crime, Carmen Jones, seu primeiro trabalho no cinema), Stanley Kubrick (Spartacus), Martin Scorsese (Os Bons Companheiros, Casino) entre muitos outros. 



Os bons companheiros








Saul Bass exportou a estética cinematográfica para além da tela. Imprimiu em cartazes mais do que apenas um título e uma cena. Imprimiu  toda textura e identidade de clássicos do cinema. Seu trabalho sobrevive nas paredes de cinéfilos no mundo todo (inclusive nas minhas)

Parte de seu legado também é a geração de designers, profissão que ganhou importância do universo cinematografico. É uma arte que se modernizou e muito nos últimos anos, mas a criatividade permanece atemporal. 



Dexter
Sua simplicidade inspirou diretamente os créditos do cinema nacional da época. Hoje, é possível encontrar referências diretas de seu trabalho nos mais variados lugares, como no seriado Dexter e no filme dos irmãos Coen, Queime depois de ler (2008).  Outros artistas, como Kyle Cooper, usam as mesmas ideias, porém com alta tecnologia e muita computação gráfica.  Cooper , que tem uma vasta filmografia, é considerado um herdeiro da arte de Bass. Assista os créditos dos seriados The walking dead e American Horror Story e dos filmes Se7en (1995), Trilogia Homem Aranha (2002, 2004 e 2007), o último ganhador do Oscar, Argo, e veja se concorda.


Saul Bass observou aquele momento dos filmes que é mais quadrado, monótono e que parecia uma mera formalidade. Com seu talento e ousadia conseguiu dar graça, tornar atrativo e ainda abrir inúmeras possibilidades para enriquecer o diálogo do artista com o público.

Créditos de Saul Bass e Kyle Cooper

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Glorinha "voando" baixo



Há meses, muito se falava sobre a baixa audiência de Salve Jorge. O trocadilho óbvio com o título foi usado várias vezes, felizmente, não por mim. Substituir Avenida Brasil não poderia ser tarefa fácil para nenhuma novela. Porém hoje o cenário é outro. Glória Perez corre com a trama e a sucessão de acontecimentos atrai o telespectador, que já não compreende detalhes da história caso fique alguns dias sem assisti-la. Esse fato é bem comum na chamada “barriga”, aquela enrolação típica do miolo da novela, que permite que ela dure aproximadamente nove meses. Em Salve Jorge, esse parto fica cada vez menos indolor, à medida que se revela a importância de certos personagens periféricos.

Dentre esses, um dos mais comentados é Jo-Johana, a escrivã da polícia transformada em dançarina infiltrada, interpretada pela estreante Thammy Gretchen. O nome “Johana” surgiu de um sonho da própria Thammy. O que ajudou a gerar a curiosidade do público foi o fato de Johana dançar uma música célebre na voz, ou melhor dizendo, no bumbum de sua mãe, a dançarina Gretchen. Também é peculiar que o pai de Thammy seja um policial, ou seja, Jo-Johana combina as duas profissões. As performances no palco deixam um pouco a desejar, tornando constrangedor os elogios dos outros personagens. Comentários como “muito boa essa moça” são forçados para dizer o mínimo. Mas é inegável que com esse laboratório doméstico Thammy surpreendeu muita gente e faz uma boa estreia como atriz.




Surpreendente também foi a revelação de que a capanga de Lívia (Claudia Raia), Wanda (Totia Meireles) traficou sua própria filha! Mas tudo não passava de uma armação da esperta delegada Helô (Giovanna Antonelli). Durante muito tempo a autora deixava transparecer que a adotada riquinha Aisha (Dani Moreno) fosse filha da moradora do morro do Alemão Delzuite (Susana Badin). Certas vezes, alguns indícios sobre o desenrolar da história são fornecidos, possibilitando ao público prever o que irá acontecer. Tal recurso é conhecido pelo termo “antecipação” e diferente do que se possa imaginar, causa mais suspense do que morosidade. Nesse caso, as melhores cenas ocorreram durante os interrogatórios. Hoje à noite veremos se o reencontro familiar e o choque de classes trará alguma profundidade. 

Nessas últimas semanas o núcleo principal também ganhou destaque e teve mais idas e vindas que em toda trama. Mesmo não agradando maciçamente, gerou muitos comentários, inclusive em redes sociais, critério de avaliação que hoje conta e muito.
E quem sustentou a novela desde o início continua brilhando. É claro que estou falando de Helô e seu ex-porém-futuro marido Stênio (Alexandre Nero), que protagonizaram boas cenas de comédia. O modo como a delegada usou o lado fofoqueiro do marido foi ousado e divertido. Esse tipo de personagem, que mantém o ritmo através do humor, às vezes humor negro, é indispensável para qualquer folhetim. Cito alguns recentes: Bebel (Camila Pitanga, em Paraíso Tropical), Rakelli (Isis Valverde, em Beleza Pura), Léo (Gabriel Braga Nunes, em Insensato Coração) e Rafaela (Klara Castanho, em Viver a vida). É por eles que os telespectadores começam a assistir uma ou outra cena das novelas e acabam se tornando assíduos. São também os personagens mais lembrados.



Assim como tantas outras novelas que não agradaram na maior parte do tempo, Salve Jorge também tem a chance de fechar com chave de ouro e deixar, de alguma maneira, saudades. Seja pela trama que se tornou interessante com seu desenrolar, seja por algum personagem popular que causou identificação no público. Trocadilho infame a vista: Salve Jorge matou os dragões.