A 66ª Mostra de Cinema de Cannes, na charmosa e “baphônica” Riviera
Francesa, começou hoje e vai até o dia 26 de maio..
Depois do Oscar, Cannes é a premiação de cinema mais famosa
do mundo. No entanto, sendo mais uma mostra do que uma competição, tem maior
credibilidade entre os cinéfilos e seus filmes, exibidos e vencedores, figuram
entre os maiores clássicos.
O evento tem o intuito de apresentar os filmes mais
aguardados dos diretores de maior renome e apresentar novos talentos. Apresento
um pequeno panorama do primeiro grupo.
Inside Llewyn Davis, de Joel e Ethan Coen, conta a história
de um músico, amigo de outros músicos conhecidos como Bob Dylan, mas que
diferente de seus amigos nunca conseguiu fama e sucesso. O filme se passa nos
anos 60 e conta com Justin Timberlake, Carey Mulligan e Oscar Isaac,
interpretando o personagem do título. Dos atores habituais dos Coen, apenas
John Goodman.
Os irmãos tem grande destaque na história do festival. Melhor
direção três vezes (Barton Fink, Fargo e O homem que não estava lá, 1991, 1997
e 2001, respectivamente). Em 1991, Barton Fink venceu a Palma de Ouro, ou seja,
também foi eleito o melhor filme, fato que ocorreu apenas outra vez, em 2003,
com Elefante de Gus Van Sant.
François Ozon, um dos mais renomados diretores franceses da
chamada “New Wave”, vem com Jeune & Jolie, o retrato de uma jovem pelas
quatro estações do ano. Chalotte Rampling, que trabalhou com o diretor em
Swimming Pool, única participação anterior do diretor em Cannes, volta a
colaborar com o diretor.
Um pai viaja com seu filho que mal conhece para buscar um prêmio.
Em poucas palavras, Nebraska, filme de Alexander Payne (Os descendentes, As
confissões de Schimidt). Duas figuras conhecidas dos fãs de seriados compõe o
elenco: Stacy Keach, de Prison Break e Bob Odenkirk, de Breaking Bad. Trata-se
de mais um road-movie na carreira do diretor, com todos os ingredientes do
sub-gênero, como análises sobre a vida e nossas relações, temas muito presente
nos outros filmes do diretor americano.
Roman Polanski, diretor de O Pianista, filme vencedor em 2002,
apresentará dois filmes. La Vénus à la fourrure, na mostra competitiva, tem sua
esposa Emmanuelle Saigner (de O escafandro e a borboleta, vencedor do prêmio de
melhor diretor, em 2007) interpretando uma atriz que tenta convencer um diretor
de que ela deve protagonizar sua nova peça. Já na mostra especial, sobre
esportistas, será reexibido seu documentário “Weekend of a champion”, de 1972,
sobre o piloto de Fórmula 1 Jackie Stewart. Também nessa mostra paralela estará
o documentário “Muhammad Ali's greatest fight”, de Stephen Frears, sobre a luta
do falecido pugilista para não ir para a guerra do Vietnã.

O diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn, que há dois anos
foi condecorado em Cannes com o prêmio de melhor diretor por Drive, volta a
mostra com Only God Forgives. Mantendo sua linha de violência cult (que se
assemelha mais a Scorsese que a Tarantino) o diretor escalou novamente Ryan
Gosling, ator de Drive. O personagem de Gosling em Drive, inclusive, lembrava muito Travis Bickle, interpretado por Robert De Niro no filme Taxi Driver, de Scorsese. Nicolas surgiu na mesma época que os diretores
dinamarqueses do Dogma 95, Lars Von Trier e Thomas Vinterberg. Porém
representou um contraponto ao estilo restritivo e realista de seus
conterrâneos.

Outro diretor que já ganhou uma Palma e exibe seu filme em
Cannes é Steven Sodenbergh. Vencedor com apenas 26 anos com seu “Sexo, mentiras
e videotape” (1989), Sodenbergh apresenta Behind the Candelabra, sobre a
conturbada relação do pianist Liberace (Michael Douglas) e seu amante Scott
Thorson (Matt Damon), autor do livro homônimo cujo filme foi baseado.
Veterano de Cannes com 8 participações e um prêmio de júri,
por “Flores Partidas” (2005), o esquisitão Jim Jarmush (Dead Man e Ghost Dog)
apresenta Only Lovers Left Alive. Estrelado pela incrível Tilda Swinton
(Precisamos falar sbre Kevin), o filme conta a história de amor de dois
vampiros. Apaixonados há séculos, eles tem a relação abalada pela irmã mais
nova da vampira.
Baseado em fatos reais, The Bling Ring, de Sofia Coppolla, estará
na Mostra Um Certo Olhar e conta a história de um grupo de jovens que assalta
casas de celebridades. Sofia se especializou em atualizar o “cinema do tédio”,
de Michelangelo Antonioni (A Aventura, A Noite e O Eclipse, conhecida como
trilogia da incomunicabilidade ou trilogia do tédio). Espero algo semelhantes em The Bling Ring, protagonizado por Emma Watson, da
série Harry Potter.
Também vale citar a estreia do ator James Franco (Oz, mágico
e poderoso) com As I lay dying, Wara no tate, o novo do diretor Japonês Takeshi
Miike (Zatoichi e Hara-kiri, a morte de um samurai) e o novo filme de Baz
Luhrmann, O Grande Gatsby, adaptada da obra literária de F. Scott Fitzgerald,
com Leonardo DiCaprio, Tobey Maguire e Carey Mulligan no elenco e Beyoncé na
trilha. O estúdio proibiu a mídia de divulgar seus reviews até após a exibição, mas a imprensa britânica burlou esse bloqueio. Apesar disso, o filme que abriu o Festival foi recebido com certa frieza.