quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Por uma obra-prima a mais?




Quentin Tarantino desperta amor e ódio cinematográfico. Endeusado por alguns, que elevam seus filmes a um gênero novo e particular e acusado por outros de plágio. Cada um de seus filmes destila por milímetro quadrado uma série de referências ao cinema e a cultura pop.
Como diretor, ganhou respeito por Cães de Aluguel (Reservoir Dogs, 1992), depois prestígio e fama com o vencedor da Palma de Ouro, Pulp Fiction (1994)Mais tarde se aventurou a adaptar uma história, em Jackie Brown (1997), fato que não se repetiu.
Passou um bom tempo “cozinhando suas ideias” para dois filmes. Nessa época, já relacionava sua identificação com o western-spaghetti, apesar de pouco ou nada do gênero ter sido visto em seus filmes, até aqui. Foi com a quebra do hiato, em Kill Bill volume 1 (2003), que pode-se observar traços de Sergio Leone, em um filme de kung-fu com forte trilha de faroeste (do próprio Ennio Morricone, colaborador de Leone) além de outros aspectos. No volume 2 de Kill Bill (2004), o western ganhou a tela, com imagens e referências mais claras, também aos filmes de John Ford. De modo geral, como se trata de uma vingança, com muita corrupção moral e praticamente nenhum santo, pode-se chamar tudo de um “faroeste com espadas”. Quatro anos depois, Quentin lançou com seu amigo Robert Rodriguez dois filmes no estilo grindhouse, de drive-thru, sua parte sendo o subestimado À prova de morte (Death Proof, 2007). Com Bastardos Inglórios (Inglourious Basterds, 2009),Quentin atingiu maturidade, num filme de guerra no estilo Tarantino, flertando novamente com o faroeste e agradando até alguns de seus detratores.




Agora com Django Livre (Django Unchained, 2012), o ex-balconista de vídeo-locadora pisa com os dois pés no gênero, sem deixar, claro, de trabalhar com o hibridismo estético, seja nos temas como na trilha, esquizofrênica mas funcional na maior parte do tempo. Django ( Jamie Foxx), caçador de recompensas recém-alforriado pelo seu tutor no ofício, o ex-dentista alemão Dr. King Schultz (Christoph Waltz, novamente no sempre presente personagem dos filmes de “Taranta” que esbanjam uma confiança que deixa qualquer espectador desesperado) que anda pelo Sul americano pouco antes da Guerra Civil com seu simpático cavalo Fritz (iiiihuuuu). O alemão, que condena o escravismo, se sente sensibilizado pelo desejo de Django, similar a uma lenda alemã: recuperar sua esposa, Brunhilda. E para isso, vão até o paradeiro da moça, uma fazenda comandada pelo inescrupuloso Calvin Candie (Leonardo DiCaprio) e seu puxa-saco negro Stephen (Samuel L. Jackson).




Muitos, como o diretor Spike Lee, veem o excessivo uso da palavra “criolo” (traduzido) como má fé e clara indicação ao racismo (aliás, essa palavra é uó, vou chamar de etnofobia). Aqui, o matador rápido no gatilho, bem parecido com o da trilogia dos dólares, é negro, cheio de estilo e bem mais falante. Dispara sua arma verborrágica e literal contra a covardia branca. Nessa questão brancos/negros, temos dois personagens que se destacam: o consciente Schultz e o subservente Stephen, um escravo que deixaria Goebels orgulhoso, convencido da mentira da supremacia branca, dita mil vezes, talvez por Calvin. A etnofobia pode partir de qualquer etnia e ser direcionada a qualquer uma também, até a própria. Assim como o bom senso é fruto do esclarecimento. Mas passemos a outros aspectos do filme.

As cenas de violência lembram a edição dos filmes de Sam Peckinpah com alguns absurdos típicos dos western-spaghetti mais pobres e, claro, o sangue jorrando de maneira cômica, algo já esperado nos filmes de Tarantino. Não vejo a hora de ele filmar uma cena num consultório odontológico.




Falando da edição, bem marcante e característica dos filmes de Tarantino, é a primeira vez que um longa dele não é editado pela Sally Menke, falecida em 2010. Coube a Fred Raskin, editor dos mais recentes Velozes e Furiosos, mas também, por várias vezes, assistente da própria Sally e dos editores de PT Anderson (outro diretor atual que abusa da abordagem musical em seus filmes e, possivelmente, o melhor diretor americano da atualidade), a sonhada, mas arriscada, tarefa de editar o longa. Não creio que isso tenha influenciado, mas Django é bem mais linear que os outros filmes de Tarantino, e felizmente, uma edição quase imperceptível, sem maneirismos de alguém querendo copiar a saudosa Sally.

Importante lembrar que o nome Django vem do filme homônimo de Sergio Corbucci, uma das lendas do gênero, e o ator principal desse filme de 1966, Franco Nero, faz uma ponta em Django Livre. No mínimo, o ursão de pelúcia do parque de Tarantino.

Vejo o hibridismo cinematográfico como na música: pode-se criar um novo estilo seguido ou criar um frankstein sem sentido. Nesse hibridismo, assim como em Bastardos, em que Tarantino fuzilou a cara de Hitler, ele usa o cinema como seu parque de diversões, pintando-o à sua maneira.
Para mim, é emblemático um filme do Tarantino ser o primeiro filme que comento em meu blog: antes dele e de David Fincher, costumava escolher filmes pelos atores. Passar a ter os diretores em mente é um momento fatídico e necessário para quem quer conhecer mais sobre cinema, creio eu. Sobre o título, se Django Livre se juntará aos outros filmes de Quentin, que me conquistaram e me tornaram uma amante curiosa da sétima arte, eu não sei. Acredito que o filme pode envelhecer bem, pois há muitos elementos para serem pós-analisados. Mas certamente é um filme que ele sonha em fazer desde seus tempos de balconista. O que vale aqui é a devoção pelo cinema.



Para conferir o trailer de Django de 1966 e sua trilha inconfundível, segue link: http://www.youtube.com/watch?v=w8Ge2hmSTbo

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Capítulo out, episódio in


No dia 21 de janeiro, segunda-feira, a novela Salve Jorge alcançou seu mais alto índice de audiência, de acordo com o Ibope, registrando 37 pontos. No capítulo, Jéssica (Carolina Diekman) é assassinada pela über villain Lívia (Cláudia Raia). Duas ausências curiosas sobre esse fato: do elemento surpresa e de tramas paralelas no fatídico dia.

Todo mundo que acompanha o folhetim, mesmo que de longe, como eu,  sabe que Jéssica entrou para morrer, só durou um pouco mais porque a Carol é irada a Glória Perez quis, analisando que prolongando o impasse poderia segurar o espectador. E todos que entraram em qualquer porta de notícias segunda-feira sabiam que a espera acabaria. Ou seja, o público não liga a TV para saber o que irá acontecer e sim como irá acontecer. Isso não é novidade, visto que a maioria das novelas tem finais bem óbvios. No entanto creio que é o cuidado com que são feitas tais cenas importantes, ainda que anunciadas pelas mídias paralelas, que mantém o telespectador ligado. Não foi uma cena perfeita, porém teve um crescente suspense, com toda agitação prévia da festa em que o crime aconteceu e posterior silêncio, calmaria e choque. Uma cena para ser assistida. Não é uma redundância de fato, pois grande parte do material poderia facilmente se passar por uma rádio novela, já que qualquer um pode entender perfeitamente a trama enquanto prepara a janta ou faz as unhas.

A Globo sabe como trabalhar convergindo as mídias. Colocando uma cena premeditada e importante como essa por semana, acredito que Salve Jorge pode ser salva. (Juro que não queria fazer o trocadilho)

Outra peculiaridade talvez evidencie uma tendência. O capítulo todo girou em torno do seu final, a morte de Jéssica.* Lembro que há alguns anos, em tramas que acompanhei, como Alma Gêmea, A Próxima Vítima e Celebridades, entre outras, mesmo os capítulos com acontecimentos extremamente aguardados tinham tramas paralelas a todo momento, como outro capítulo qualquer. Mas o público hoje, de todas as classes sociais, todas mesmo,  já está habituado e aprecia o modelo dos seriados americanos, em que cada episódio trata de um assunto particular. O recurso torna tais cenas previsíveis muito mais viscerais. Não duvido que em pouco tempo a cúpula global exija de seus autores a segmentação parcial das tramas em episódios. Uma certa novela que prometi a mim mesma não mencionar por um tempo aqui se aproximava dessa tendência e obteve êxito.



*Não me lembro de cenas muito fora do contexto da morte, apesar de que troquei algumas vezes de canal para ver BBB – a eliminação debate, no Multishow, melhorado com Bruno de Luca no lugar do entojo Alemão, com participação do divertidíssimo (às vezes) André Gabeh e exibição de cenas clássicas e não mecânicas como as atuais, como Tina (qualquer cena da Tina é clássica) e vovó Naiá vendo, atônita e depois de uns bons minutos no jardim, que o muro que dividia a casa na nona edição não estava mais lá. Enfim, divertido, mas ainda não está na hora de falar de BBB.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O canto das mulheres ricas



Confesso que me sinto um pouco perdida tentando decifrar a real mensagem do programa Mulheres Ricas (apesar de apostar mais na falta de intenção de mensagem alguma). Ás vezes parece um alerta para que busquemos tudo que desejamos, as vezes parece mais que querem esfregar na cara tudo que as "celebridades" tem e nós não temos. Em outros momentos, parece apenas mostrar os pontos em que elas não diferem de mulher alguma, para logo em seguida mostrar que são nada iguais.

Sobre a riqueza, podemos afirmar que ela tem o poder de nos murar e fazer desaparecer qualquer fraqueza. Mas reparo que em muitos momentos, toda possibilidade de fortaleza atrás da fortuna é desprezada. Toda vaidade some.
Na edição dessa semana, por exemplo, vemos uma Narcisa com máscara para pele, de boca aberta no dentista, uma Andreia de quatro arrumando o tapete de sua sala e as duas situações mais duras e desmuniciadas de qualquer proteção pelo dinheiro: Mari janta sozinha após saber que seu marido Luizão não voltaria para casa naquela noite e Aileen, a cantora aspirante, totalmente insegura pelo fiasco após uma rápida apresentação no aniversário de Narcisa.

As mulheres que usam e abusam de seu dinheiro (interminável) para satisfazer toda e qualquer vaidade, abrem mão da mesma para entreter ou tentar provar que são como qualquer outra mulher, apenas com mais dinheiro. Ainda assim, no fim do dia, caso não possam usar o táxi aéreo, o avião comercial será seu “busão”.


Quem não abriu mão de sua vaidade foi Sereia. Resumindo em uma frase a série, Sereia tinha um tumor no cérebro e encomendou sua própria morte. Ao final de tudo, essa era a grande explicação e solução do mistério em torno de sua morte. E seu algoz, sua alma gêmea, Só Love, o único que seria capaz de entender as atitudes da anti-heroína.
A Globo emplaca mais uma micro série de sucesso, com um grupo que já brilhou em Avenida Brasil (os diretores Ricardo Waddington e Jose Luiz Villamarin e os atores Ísis Valverde, Camila Morgado, Fabíola Nascimento, Marcos Caruso e desculpa se eu esqueci alguém). Os órfãos da novela, como eu, festejaram.
A trama, adulta e corajosa, não foi tão surpreendente, mesmo tendo tantos possíveis culpados, pois no terceiro capítulo, quando a doença de Sereia foi revelada, já era possível imaginar que ela teria encomendado sua morte. Mas nem por isso foi menos emocionante. Num lindo plano sequência, Sereia pede para que Só Love a mate e ele não consegue negar o pedido. Só ele faria isso por ela.

A decisão de Sereia pode parecer irracional, mas se tentarmos compreender, é bem inteligível. Antes de alcançar a fama, mostrar seu vigor e sua beleza para todo mundo em cima do trio elétrico, Sereia, aparentemente, esperava por algo, sentia que grandes realizações eram iminentes, ou seja, seu momento ainda não era aquele em que vivia. Aquele era apenas um momento de tédio antes da realização de seu potencial, daquilo que a identificaria com um ser com total personalidade. Sem essas características, Sereia deixa de ter algum lugar no mundo, passa a não existir. Para ela, é o mesmo que estar morta.
A vaidade era o que transformava Sereia no que ela é. O que será que transforma as mulheres ricas no que elas são?

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

A culpa é do BBB!

Mulheres ricas estreia hoje. BBB amanhã. As bazófias, a promíscua e a fútil, abrem mais um ano televisivo para encher os bolsos das emissoras. Esse pelo menos é o pensamento de 9 entre 10 pessoas que não assistem mais que dois minutos dos programas. O que me parece, quase sempre, é que a principal preocupação não é questionar a qualidade dos programas (em muitos momentos, diria, duvidosa mesmo) mas sim quem os assiste. "É um lixo" soa mais como "quem assiste é um lixo".

É inegável que existem programas melhores, ou corrigindo, que alcançaram seus potenciais e se tornaram mais úteis. Apesar de estarem ali, para apreciação dos ávidos "críticos de tudo", são pouco comentados, raramente assistidos. Será que a programação é fraca porque BBBs são assistidos ou porque os "Sons e fúrias" são ignorados? (Faz tempo que foi exibido, mas o escolhi para exemplificar pois além de ter sido um dos melhores programas exibidos nos últimos tempos na Globo, já era sabido desde o início pela direção da emissora que não teria boa audiência)

Mas tudo leva a crer que a partir dessa segunda-feira um livro vai se suicidar, um político desviará verba e ficará impune, outros assuntos importante serão ignorados e todos nós ficaremos mais burros. A educação no Brasil não era prioridade muito antes de se pensar no conceito do Grande Irmão, assim como a política já era terreno de bandidos. Outros pães e circos mal alimentavam e distraiam. Qual será o caminho para tanto ódio? O lucro? Talvez o fato de ser uma ideia tão simples, falar de nós mesmos?

Não quero defender a ideia de realitys shows aqui (porque farei isso apenas num futuro próximo, ao longo da exibição). No entanto, preciso concordar com os detratores: o programa exibido pela Globo é realmente muito ruim. Porém acompanhar pela internet possibilita que o propósito de assistir a um reality seja quase experimentado. Falo mais sobre isso quando sentir que o BBB 13 já está encaminhado. Sentir, pois não pretendo ver, diferente de Mulheres Ricas.