De todas as frases erradas e estúpidas já ditas no BBB (e olha que não foram poucas) essa talvez seja uma das mais questionáveis e pode nos fazer refletir. Hoje digo "Agora o Brasil tá vendo".
Quando começou a ser dita, talvez por volta de 2003, estávamos limitados a acompanhar as edições diárias da Globo e alguns resumos na Multishow. Filtros e mais filtros de julgamentos, percepções, preferências e, claro, interesses até que 24 horas sobre várias pessoas chegassem até nós. Era impossível o Brasil ver coisa alguma.
Em cerca de 5 anos o Pay-per-view, entre outros mecanismos não tão cristãos, popularizou-se, fazendo com que alguns brasileiros "vissem" o que de fato acontecia. Ficaram perceptíveis a manipulação de tramas (e até criação de romances) por parte da caprichosa edição global, mudanças de contextos, mudanças na ordem dos acontecimentos, omissão de declarações importantes, tudo para fazer deste ou daquele o consagrado vencedor. Soa familiar? E não me refiro a nada desse século.
Outras formas de manipular a novela da vida real foram criadas, baseadas em twists estrangeiros. Alguns se mostraram extremamente eficazes, como o Big Fone, excelente para que a direção "emparede" ou "salve" quem bem entender. Verdade que nem sempre dá muito certo, mas o fato é que a introdução do recurso deu-se para que paredões mais aprazíveis, digamos, fossem formados. Outras ferramentas apenas mexem nos nervos dos participantes, sem favorecer necessariamente este ou aquele, como Poder do Não, o extinto Poder do Veto (mas presente em todos BBUS), a xepa (também presente em outros países, mas com dificuldades ainda maiores para os "heróis") e a mais recente: o jogo da discórdia, que essa semana gerou um tumulto que creio que nem a direção imaginava. Até as bebidas e o papo agradável com Pedro Bial serve para plantar sementes e chacoalhar o jogo.
Pois, baseado nos resultados do atual BBB, a Globo vai ter que se contentar com as manipulações mais brandas, citadas no último parágrafo. As omissões não adiantaram, o que foi dito, foi visto ou lido, por um canal, uma coluna ou uma rede social. É muito terreno pra Globo conseguir cercar. O grande filtro, ainda que duvidoso, finalmente é o público (ou não, quem ainda não duvida que votações podem ser manipuladas?). Mas darei o voto de confiança: o Brasil nunca viu tanto.
Então, para que serve mesmo ver tanto um programa que vai do nada a lugar nenhum, sem informações, em que o ponto alto é barraco? Eu digo: educação. É, isso mesmo, educação. Educar nosso discernimento, nossa atenção, nosso bom senso. Educar nossos olhos e ouvidos. Porque se já tentam falsear a realidade de um programa que vale "apenas" 1 milhão e meio, imagina os malabarismos que não são feitos para desinformar sobre nossa realidade, aqui fora da casa, agora sim e infelizmente, mais vigiada do Brasil. E se não percebemos todos os filtros nesse programa, filtros mais simples, mais dedutíveis, já que temos acesso ao todo, perceber o que é realmente complexo, cercado de interesses muito maiores, é realmente impensável. Não é teoria da conspiração. Como diria outro reality show: "não é nada pessoal, são só negócios".
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