sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Expectativas (drop your expectations)



Quase sempre, todos nós vamos assistir a um filme com alguma expectativa. Porque já vimos outros filmes bons do diretor, porque gostamos muito do trabalho do ator, porque nos identificamos com a sinopse ou até porque aquela opinião confiável, que sempre acerta, já deu seu parecer, sempre há algum motivo.

Nunca estamos totalmente zerados ou livre de preconceitos. Isso pode acabar com a experiência de um filme que poderia ser bom. De modo geral ter expectativas boas ou ruins, não é saudável. No entanto torcer no Oscar, a premiação de cinema que acontecerá neste domingo, é um festival de expectativas e meros pitacos, já que geralmente não vi nem metade dos filmes, mesmo os que concorrem a principal categoria.

Isso não muda minha expectativa, por mais que evite, sobre alguns filmes indicados a principal categoria, então vou compartilhá-las, “pitacar” e registrar para que lembre caso preconceitos ruins se revertam em boas surpresas.


Indomável Sonhadora

É óbvio que não leva, mas o filme de estreia do jovem Behn Zeitlin, cuja tradução livre seria “Bestas do Sul selvagem” é muito bom. Honesto, mostrando um lado americano pouquíssimo explorado no cinema, o da pobreza, mostra como um mundo diferente obriga pessoas a ter outras regras e atributos. A atriz Quvenzhané Wallis é a mais jovem indicada à categoria de melhor atriz da história.




O lado bom da vida

Por Deus, quem traduz esses títulos? Enfim, do diretor David O. Russel, que há alguns anos concorreu com o ótimo “O vencedor”, tem cara de típica comédia romântica e está indo bem nas bilheterias. Mas Russel costuma ser mais interessante do que isso, contando histórias bem cotidianas e particulares (até mesmo Três Reais, que apesar de situar na guerra do Golfo, se concentra no particular) que vão filosofando, filosofando até não chegar a lugar nenhum. Acho que com esse ele chega ao ponto alto de seu estilo mais comercial.



A hora mais escura

A já vencedora do Oscar Kathryn Bigelow, por Guerra ao Terror (desbancando Bastardos Inglórios e mais notoriamente, Avatar) realiza mais um filme de guerra mais polêmico que o anterior, sobre a caçada a Osama Bin Laden. Inicialmente, o filme seria sobre a caçada fracassada, após 11 de setembro. Mas durante a pré-produção, Osama foi capturado e a trama mudou.  Acredito que o tema seja abordado sem maniqueísmo e excesso de pretenso heroísmo americano tão irritante. Se é bom cinema, só vou descobrir assistindo. 


Argo

Apesar de ter ganhado o Globo de Ouro, o diretor Ben Affleck (muito melhor diretor do que ator, por sinal) não concorre à categoria de melhor diretor. Por já ter ganhado o outro prêmio, seria o favorito, mas o fato de não concorrer à direção deixa tudo no ar.  O filme é dinâmico como o tema exige, mas consegue ser mais pessoal que a maioria dos filmes do gênero,  quer dizer, as relações interpessoais tem um foco tão grande quanto a trama de espionagem/resgate e torna o filme mais caloroso. O início é bem corajoso, mas o final...


Lincoln

Já que Affleck não concorre à melhor diretor talvez Lincoln tenha boas chances. Daniel Day-Lewis está perfeito, como sempre, na história sobre como o presidente dos Estados Unidos conseguiu os votos necessários para abolir a escravatura durante a Guerra Civil. Não é nem de perto dos melhores filmes que concorre, claro, considerando apenas os que vi. Mas é ligeiramente melhor que o anterior de Spielberg, Cavalo de Guerra.


Os Miseráveis

O diretor Tom Hooper já venceu há dois anos com O Discurso do Rei (em um ano que concorriam Cisne Negro, O Vencedor, A Origem, A Rede Social, Inverno da Alma, Bravura Indômita, resumindo, era o pior filme concorrente) e parece fazer “filmes para Oscar”. Dramáticos, conservadores, com um ou outro detalhe peculiar meticulosamente escolhido, nesse caso, um musical.  Não sei se é melhor que o filme anterior, espero que sim, mas acredito que Academia não premiaria duas vezes em tão pouco tempo um diretor com poucos filmes expressivos. Mas sei lá, a Academia é louca. Olha o tempo que levou pro Scorsese ganhar alguma coisa!


As aventuras de Pi

Em meio a polêmica de ter surrupiado a história do escritor brasileiro Moacyr Scliar, o vencedor Ang Lee, por Brokeback Mountain, deve estar apenas preenchendo a lista de candidatos. O filme deve ser interessante, porém muito dificilmente melhor que O Mestre, fora da categoria principal.


Amor

Filme de língua estrangeira que concorre a melhor filme automaticamente ganha a categoria de língua estrangeira (aliás, nas próximas semanas comento com mais detalhes essa categoria, que para mim é até mais interessante que a principal). Então talvez Michael Haneke, com suas milhares de Palmas de Ouro, finalmente leve, tendo No, do Chile e O Amante da Rainha, da Dinamarca correndo por fora. É facilmente um dos 3 melhores filmes dessa lista de 10 concorrentes a Melhor Filme. É também o filme mais acessível de Haneke e Emanuelle Riva, conhecida pelo clássico Hiroshima, Mon Amour, deveria ganhar a estatueta de melhor atriz.


Django Livre

Já falei sobre Django no blog, não é o melhor filme de Tarantino, mas se a Academia fosse mais, digamos, democrática, seria certamente um dos fortes candidatos. Entretanto não tem a menor chance, acho que nem o Christopher Waltz, que ganhou com Bastardos Inglórios ao prêmio de melhor ator coadjuvante. Mas talvez ganhe melhor Roteiro Original, que Tarantino já ganhou, por Pulp Fiction e concorreu por Bastardos.

Pode ser que expectativas sejam boa coisa. Talvez no futuro, eu escreva um post sobre filmes para os quais não dava nada, mas que se tornaram queridos após assistir.

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