Adoro primeiros capítulos de novelas. Não só para conhecer
uma trama inteiramente nova e seus personagens que nos farão companhia por
vários meses, mas principalmente porque toda equipe aplica um esforço acima da
média para deixar logo sua marca no horário. Isso é nítido em todas as
estreias, levando alguns a crer que tal novela empregará um ritmo ágil. No
entanto, a cadência própria de cada novela é ditada ao longo da novela, não em
seu primeiro capítulo.
Nossas experiências também podem ser influenciadas pelo modo
como a novela anterior acabou. Apesar de Salve Jorge ter se encontrado nas
últimas semanas, não deixou a saudade que outras deixaram. Ainda assim, alguns
pontos do último capítulo fugiram do lugar comum e podem ser relacionados com a
estreia de Amor à vida.
Nesse ponto, Salve Jorge foi quase inovadora. Todos seus
vilões foram parar atrás das grades. O que faz muito sentido, já que a heroína
da trama é uma delegada (mais detalhes no parágrafo abaixo). E na cadeia, em
mais uma cena inspirada, Wanda (Totia Meirelles) adotou uma religião,
possivelmente evangélica, como forma de mostrar seu conformismo em qualquer
situação, como disse, brilhantemente, Lívia (Claudia Raia). (Veja vídeo aqui) Em Amor à Vida, há
boatos de que Valdirene, filha de Márcia do Espírito Santo (Tatá Werneck e
Elizabeth Savalla, respectivamente) se converta também há uma vertente
evangélica, o que pode gerar polêmicas, já que a personagem, que deve entrar na
trama na próxima semana, será apresentada como uma “maria-chuteira”. Não há nem
mesmo uma confirmação do autor Walcyr Carrasco, que garante decidir o destino
de seus personagens de acordo com o que os próprios mostram para ele.
Voltando a heroína, “Donelô” (Giovanna Antonelli) esteve apagadinha
no capítulo final da novela de Glória Perez, mas foi uma constante ao longo de
seus quase sete meses. Deve ser lembrada como a referência na novela de
personagem que funcionou. Moderna, feminina, divertida e inteligente, muitas
vezes pensou a frente do público. Pode-se dizer que é uma heroína perfeita. Amor à vida, aparentemente virá com o vilão
perfeito. Félix (Mateus Solano) comandou o humor e foi o maestro da tensão nos
primeiros capítulos. Equilibrando a perspicácia típica dos gays, perversidade,
inveja e ambição, a “bicha-má”, como já está sendo chamada nas redes sociais,
dá claros indícios de ser um psicopata. E o Brasil ama um bom psicopata nos
folhetins!
Do lado negativo, a sessão de furos já começou em Amor à
Vida. Parto normal em uma mulher com pressão alta. Será que teremos que continuar
voando? É o que falta para que boas novelas tupiniquins possam ser comparadas
aos seriados estrangeiros: maior preocupação com a veracidade do que é posto na
tela. Por mais que se use a carta da “liberdade poética”, essa falta de cuidado
pode gerar consequências graves no público menos informado. Walcyr precisará de
muita atenção para segurar essas imprecisões com seus mais de 80 personagens, fator
que aproxima Amor à Vida as novelas de Glória Perez e distancia do modelo
aprovado de João Emanuel Carneiro, que trabalha com elencos mais enxutos.
Acostumado a novelas leves, lembradas pelo humor como O
Cravo e a Rosa, Chocolate com Pimenta e Alma Gêmea, Walcyr Carrasco, até agora,
nos despejou um drama quase sem alívios cômicos. Encontrou o seu próprio
momento para criar uma trama mais densa, compatível com o horário. O humor
anunciado em comerciais e até em programas como Video Show e Fantástico, ainda
aparecerá. Porém se quiser manter a coerência no trabalho, esse deve ser um
estilo de humor bem diferente dos encontrados nos pré-citados folhetins das
18h. Independente da aceitação de Amor à vida, esse é um ponto novo, um
verdadeiro desafio na carreira do autor.
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