quinta-feira, 14 de março de 2013

Analisando repetições de Glória Perez na reta final de Salve Jorge



Prevista para acabar no final de maio, a novela Salve Jorge não obteve melhora de audiência, nem mesmo na reta final. Os índices a apontam como o folhetim das 21h menos assistido da história. Motivos não faltam, poderia dedicar todo texto de hoje a eles. Porém vou discorrer sobre algumas marcas pessoais de Glória Perez que podem ter prejudicado a busca do sucesso. Apesar de quase sempre ter êxito com dramas reais pouco discutidos, como transplante de órgãos (De corpo e alma, 1992), dependência química (O Clone, 2001) e agora tráfico de pessoas, ficam evidentes do lado negativo as trocas não intencionais de protagonistas e volume imenso de personagens.

Quem assiste já percebeu que no último mês a delegada Helô (Giovanna Antonelli) em sua caça a gangue de traficantes tem mais destaque que a protagonista inicial Morena (Nanda Costa), na  guerrilha pessoal contra seus inimigos. Fica a impressão que de fato a atriz está grávida, como a personagem, e dessa forma, sendo poupada. Os vilões também tiveram troca de posições. A capanga Wanda (Totia Meirelles) figura mais que a líder gélida Lívia (Cláudia Raia).
Casos parecidos já ocorreram em tramas da autora, como Raj (Rodrigo Lombardi) que tomou o lugar de par da protagonista de Caminho das Índias (2009). Na ocasião, Bahuan (Márcio Garcia) iniciou como par de Maya (Juliana Paes). Antes da mudança,  Raj parecia ser um obstáculo para o casal. A novela foi um sucesso, vencedora do Grammy. Foi lançada no momento certo, em que a Índia estava na moda em todo mundo, impulsionada pelo filme vencedor do Oscar Quem quer ser um milionário, de Danny Boyle (2008).
Outra troca semelhante se deu em América. Menos espaço na tela – e no coração de Sol (Debora Secco) -  para Tião (Murilo Benício), mais para Ed (Caco Ciocler). É desnecessário expor a vantagem que uma novela tem quando o núcleo principal como um todo conquista o público e segue assim ao longo da trama. Mudanças causadas por opiniões do público nunca é um bom sinal.

Se por um lado João Emanuel Carneiro (Avenida Brasil, A Favorita) prefere ter um elenco bem enxuto, Glória Perez não se preocupa em alongar sua lista de astros. A última trama de João teve 32 personagens fixos contra 96 da atual novela das 21h. As duas opções tem prós e contras. Ter menos pessoas implica em menos tramas, o que cativa com mais facilidade a atenção do espectador. Os atores, por outro lado, ficam exaustos. Mais personagens torna a história confusa, com passagens frívolas e alguns atores se sentem abandonados. Ademais, gera uma série de furos, perde-se dados. Fatores esses que geram reclamações como o delegado colega de Helô não reconhecer Wanda ou Érica (Flávia Alessandra) ter carro e precisar de táxi para fazer sua mudança para a casa de Téo. Isso me lembra do seriado Lost. Os espectadores se impressionavam com Hurley, que não emagreceu um kilo sequer estando mais de 100 dias na ilha e com Locke ter embarcado no avião portando uma mala cheia de facas. Ainda mais depois do “11 de setembro”!  Mas o fato de um avião cair no meio de uma praia e a maior parte das pessoas sobreviver não parecia ser um problema. Da mesma forma, Morena, que de casa 10 palavras solta 9 gírias, bate o maior papo com turcos que tem pouco ou nada a ver com o Brasil. Conclui-se que público já está acostumado com esse tipo de liberdade narrativa.

Mas voltando ao número excessivo de coadjuvantes. Eles despertam pouco interesse no início da trama, parecem soltos, criados para “encher linguiça”. Mas considero instigante como esses mesmos se tornam cada vez mais peças fundamentais na solução da trama central. Dessa forma, o excesso de personagens se torna um estilo narrativo elegante. É o caso dos chamados filmes multi-plot ou multi-enredos, presentes nas filmografias de Robert Altman (Nashville e Shortcuts), P.T. Anderson (Boogie Nights e Magnólia), Alejandro González Iñárritu (21 gramas, Amores Brutos e, mais notável  em Babel), além do recente 360, de Fernando Meirelles. Nesses filmes, histórias sem uma conexão clara são contadas paralelamente. Porém no final sempre é possível ver a convergência desses enredos, seja fisicamente, seja em suas essências. Pode-se dizer que Salve Jorge tem esse trunfo. Mas perde a credibilidade pelos já citados furos. O perfil de cada personagem deve ser muito organizado quando a quantidade usual de tramas para meio é extrapolado.
Filmes multi-plot. Surpresas e satisfação quando tramas paralelas se aproximam.
“Em nome do pai”, de Walcyr Carrasco irá substituir Salve Jorge. O autor terá que se adaptar ao horário. Abdicar de seus clichês, cômicos e típicos de novelas de época para se firmar no primeiro escalão de autores da faixa das 21h. Cada vez mais, o público mais maduro, das 21h, quer ser surpreendido. Esse é um dos primeiros passos para conquistar a audiência do horário. Torcemos para que ele abandone mais vícios que sua colega Glória Perez.

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