terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Procura-se personagem sem vícios

Maciel (Edson Celulari) na minissérie "Decadência"


Há cerca de 18 anos, Globo e Record travavam uma grande (e ridícula) briga por audiência cheia de escândalos. A Globo divulgava valores astronômicos das fortunas de Edir Macedo, esse chutava imagens católicas e era mal falado pela rival. Em contrapartida, A Record exibia em seus jornalísticos reportagens sobre padres pedófilos (por esses ataques, dá até impressão que a Globo é a Rede Vida). Talvez a crítica mais sutil e interessante tenha vindo com a minissérie global "Decadência" (1995), protagonizada por Edson Celulari, que vivia um ex-motorista que fundou sua própria religião neopentecostal, ficou milionário e queria cada vez mais poder, enquanto seu caso romântico na juventude, vivido por Adriana Esteves, fazia um contraponto dramatúrgico, sendo PTista e idealista. Brigas à parte, fica a arte.


Hoje, a questão entre as duas emissoras é a recém abordagem de ícones de religiões africanas, por parte das novelas da Globo. Record e pastores enfurecidos fazem campanha para que fiéis não assistam tais programas e exigem que a rival seja mais democrática com as Igrejas Evangélicas, incluindo personagens evangélicos na trama, desde que aborde o tema com realismo, sem escárnio. Segundo eles, sempre a religião é retratada de forma satírica.

Pelo que li hoje, não precisava nem pedir. Segundo fontes, a sucessora de "Salve Jorge", folhetim das 21h terá uma importante personagem evangélica. No entanto, ainda não é hora de apostar que a comicidade não estará em cena. Na trama de Walcyr Carrasco, a crente seria uma ex-piriguete que tenta sem sucesso várias formas de ganhar a vida. Influenciada por sua mãe, uma ex-vedete, rival de Rita Cadillac e interpretada por Elisabeth Savalla, colaboradora constante de Walcyr, a nossa futura heroína encontra a redenção em uma Igreja evangélica e se torna uma cantora Gospel. Por um lado é uma história que pode mostrar como a religião "dona" da concorrente pode recuperar a esperança e a dignidade das pessoas. Mas quem será a atriz escolhida?

Há alguns dias, foi publicado pelas principais colunas informativas de entretenimento (também conhecidas como colunas de fofocas) que a Globo estaria cortando custos, não pagando hospedagem dos atores de fora do Rio de Janeiro, onde serão gravadas as cenas da novela em questão, com título provisório "Em nome do pai". Dizia também que muitos dos atores seriam "caras novas", estudantes da escola de atores do próprio diretor da trama, Wolf Maya. Brinquei com uma amiga que talvez então Roxane, a personagem de Tatá Werneck no recém extinto (snif) Comédia MTV, faria parte do elenco. Para quem não conhece e não quer clicar no link, Roxane é uma típica atriz-modelo-dançarina, aparentemente sem a menor vocação para atuação, que faz testes e afirma estar "fazendo Wolf". Parece que ouviram meus pensamentos, pois Roxane, quer dizer, segundo alguns sites, Tatá Werneck está confirmada para viver a tal garota evangélica. Outros apenas confirmam o destaque na novela para uma personagem evangélica, que seria intepretada por Ingrid Guimarães, Daniela Valente ou Tatá Werneck, sendo a última a mais provável. De qualquer forma, todas tem grande experiência com o humor.


Tatá Werneck como "Roxanne", a piriguete tapada, aspirante a atriz e estudante da escola de Wolf Maya, mas sem muitos talentos.

Será que haverá algum tipo de sarcasmo? A novela já tem outros temas polêmicos prováveis e outros confirmados, como erro médico e adoção por homossexuais. Seria muita polêmica em um lugar só. Sendo a Globo uma emissora devota do dinheiro que não defende uma religião específica, é possível que o tema seja tratado com leveza e respeito, ficando a dúvida se será visto com leveza e se é interessante para o outro lado demonstrar que está sendo respeitado. De qualquer modo, mesmo que a Globo queira dar uma atenção para o público evangélico que não concorda com as tramas das novelas, ainda vejo como um público perdido, porque novelas da Globo sem Cadinhos e Norminhas são inimagináveis. Alguém tem que pular a santa cerca.

Obs: ainda essa semana, um post sobre o BBB.

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