O diretor Paul Thomas Anderson, ou apenas PTA, como assina
seus filmes, faz parte junto a Quentin Tarantino, Spike Jonze entre outros, de uma safra de
diretores que aprendeu seu ofício assistindo filmes, não em salas de aula, já que abandonou a Faculdade
de Nova York de Cinema após apenas dois dias. Foi forjado pelo estilo de vários
diretores: os movimentos de câmera de Bertolucci, tramas em torno de uma
redenção, como Spielberg, o panorama de personagens de Robert Altman e a
pré-concepção meticulosa de cada cena, como Scorsese. Mas apesar de tantas influências, Anderson,
já pode-se dizer, constrói uma carreira singular e autêntica.
Se no início de sua maturidade cinematográfica o panorama de
personagens era a tônica, como em Magnólia e Boogie Nights, em seus dois
últimos filmes, Sangue Negro e agora O Mestre, ele se aperfeiçoa em fazer um
estudo de personagem. Após Daniel Day-Lewis expressar esse raio-x (Sangue
Negro), em O Mestre, coube a um entregue Joaquim Phoenix o papel de um
alcoólatra, veterano da Segunda Guerra que não consegue se adaptar a uma
realidade que já não era mais a sua. Com a ajuda de um guru espiritual,
interpretado pelo magistral Philip Seymor Hoffman, voltando a integrar o elenco
de um filme de Anderson (após Embriagado
de Amor, não esteve presente em Sangue Negro) ele tenta largar seu vício, curar seu traumas e procurar
algum sentido nessa vida, voltando-se para outras vidas. Amy Adams interpreta a
mulher do líder espiritual e compõe esse núcleo familiar obtuso tão constante
nos filmes de Anderson.
Mesmo sendo inspirado parcialmente na Cientologia, seita
muito seguida em Hollywood, e considerando a recorrência de temas religiosos na
filmografia do diretor, O Mestre não pretende discutir verdades ou mentiras
nesses cultos e sim, muito mais, divagar sobre até que ponto uma ideia é apenas
uma ideia e quando seguir algo se torna uma força castradora e opressora. De que modo alguém pode buscar suas próprias
verdades ou se subjulgar a alguém, vivendo à deriva até encontrar uma âncora. Acreditar por acreditar em algo, apenas para dar algum sentido a vida, de uma forma bem mais violenta e amarga que o personagem hipocondríaco de Woody Allen, em Hannah e suas irmãs. Será que, como o personagem de Phoenix, precisamos que a todo momento alguém nos diga "lute contra isso", "esse é seu inimigo", "vá atrás daquilo e ache o que procura"? Segundo seu mestre, sim.
De maneira quase videoclíptica, não pela velocidade dos
cortes, mas sim pelo uso quase onipresente da trilha que mistura a pegada
orgânica de Sangue Negro, que também foi composta por Jonny Greenwood, e que
começou timidamente em Embriagado de Amor, com músicas dos anos 50 com o tema
“separação e reencontro”, Anderson se reinventa e surpreende sem perder as
notas que caracterizam seu cinema e que fascinam fãs, como eu.
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